Como ser mais assertivo
Comunicar eficazmente é uma das ferramentas essenciais para manifestarmos a nossa Inteligência Emocional e esta pode mesmo modificar (e, preferencialmente, melhorar) o nosso estado de humor, as nossas relações interpessoais e a nossa condição geral.
Uma das formas de aplicarmos a nossa inteligência emocional é recorrendo à assertividade. A assertividade pode ser definida como um tipo de comunicação em que a pessoa expressa, de forma direta e honesta, as suas vontades, necessidades e/ou opiniões em situações interpessoais, respeitando a dignidade e os direitos dos outros.
Na verdade, ser mais assertivo tem um grande impacto na forma como nos vemos e sentimos. Quando não expressamos abertamente determinados aspetos – quer por não sabermos como o fazer, quer por não sentirmos abertura dos outros para os receber – há um impacto no nosso humor, deixando-nos mais deprimidos, ansiosos ou até mesmo zangados.
Por isso, desenvolvermos o nosso estilo de comunicação, garantindo que manifestamos as nossas vontades, ajuda a melhorar estes aspetos.
Locus de Controlo vs Passividade
O treino de assertividade é baseado na premissa de que todos temos o direito de expressar os nossos pensamentos, sentimentos e necessidades aos outros, desde que o façamos de forma respeitosa. Passamos a conseguir expressar as nossas opiniões de forma positiva e com confiança.
O treino de assertividade já mostrou ter impactos positivos significativos na confiança, auto-imagem, sensação de valor e locus de controlo, uma vez que nos sentimos mais em controlo sobre o que precisamos e do que pedimos.
Em oposição, passividade é um estilo de comunicação em que o foco fica totalmente nas necessidades e desejos da outra pessoa, sem considerarmos as nossas. Há uma incapacidade de assumir o controlo, a nossa opinião não consegue ser valorizada.
A passividade é uma tentativa de evitar o conflito/confronto a todo o custo – mesmo que o custo seja só para nós. É caracterizado por falar mais baixo/sussurrar, evitar o contacto visual e postura corporal fechada em si. Dica prática: Para ser mais assertivo, pratique manter o contacto visual e adote uma postura corporal aberta, mesmo em situações desconfortáveis.
Agressividade ou Passivo-Agressividade
Agressividade é um estilo de comunicação em que forçamos as nossas necessidades e opiniões nos outros, sem termos em conta as suas próprias opiniões, de forma inflexível. Há como que uma tentativa de exercer poder no outro, dar ordens, controlar de forma egoísta, rude e/ou hostil. É um jogo e a pessoa veio para ganhar (ou para fazer os outros perder). Tendencialmente, é caracterizado por falar alto ou gritar, ter uma gesticulação muito expressiva de domínio, interromper os outros sistematicamente, etc.
Podemos ainda falar de um outro estilo de comunicação – passivo-agressivo. Aqui não se é direto, vai-se camuflando o que se sente com as típicas “dicas” ou “indiretas” que vão para quem as quiser apanhar. Há uma tendência de usar o sarcasmo, a ironia, o “tratamento do silêncio”, de forma a esconder as nossas verdadeiras opiniões.
Portanto, a assertividade acaba por ser o ponto rebuçado entre a agressividade e a passividade, onde tanto as nossas necessidades e direitos como as dos outros são expressadas e respeitadas e onde a nossa própria forma de falar deve ser confiante, direta e clara.
Porque é importante ser mais assertivo?
A assertividade permite-nos atingir determinados objetivos, por isso, é necessário termos claros os motivos pelos quais queremos, ou precisamos de, ser mais assertivos. Reflita sobre em que áreas da sua vida gostaria de ser mais assertivo – relações pessoais, trabalho, família – e estabeleça objetivos específicos.
Alguns exemplos de motivos que nos levam a querer ser mais assertivos podem ser:
- Tentar fazer com que alguém faça algo que queremos;
- Dizer “não” a pedidos que não queremos ou não nos parecem razoáveis;
- Garantir que os nossos direitos e necessidades são respeitados;
- Resolver conflitos interpessoais de forma eficaz;
- Melhorar a autoestima e reduzir sentimentos de frustração e ressentimento.
Como desenvolver a nossa assertividade?
Há uma tendência natural para adotarmos determinado tipo de comunicação. No entanto, a forma como comunicamos também depende do nosso humor e das circunstâncias em que nos encontramos.
Para podermos desenvolver a nossa assertividade é necessário termos uma linha orientadora que nos permita organizar o pensamento e clarificar mal-entendidos. Para isso, é importante seguirmos a seguinte estrutura:
Técnica DEAR: O passo a passo para ser mais assertivo
D – Descrever a Situação (Contexto)
Descrever a situação em que nos encontramos da forma mais neutra e objetiva possível, focando-nos nos factos, sem juízos de valor ou julgamentos inerentes. Isto permite que o outro saiba do que estamos a falar, sem provocar defensividade ou reação emocional.
E – Expressar Emoções e Problemas (Problema)
Devemos expressar como nos sentimos sobre a situação e porque é que o que descrevemos é um problema. Não podemos assumir que o outro sabe o que estamos a sentir e a pensar sobre a situação ainda que pareça óbvio e, por isso, temos de o dizer de forma direta.
Uma boa maneira de falarmos da nossa experiência ou perspetiva, sem que os outros reajam negativamente, é utilizando mensagens do “eu” – “Quando x acontece, sinto-me y”; “Eu acredito que mereço x”. Repare que não dizemos que a pessoa é x ou y. Partimos antes da nossa perspetiva e dizemos aquilo que sentimos.
A – Afirmar o que queremos (Solução)
Afirmar de forma assertiva o que precisamos ou queremos da outra pessoa, tentando alcançar uma solução para o problema anteriormente mencionado. Mais uma vez, não podemos esperar que a outra parte adivinhe; temos de dizer o que queremos, de forma direta, e ser específicos no que queremos que seja feito ou mudado.
Também aqui podemos usar como facilitador as mensagens do “eu” – “Tendo em conta x, eu quero/gostava que faças/fizesses y”; “Podes fazer x?”; “A resposta é não – não posso x”.
Isto é particularmente importante quando precisamos de dizer que “não” – não podemos andar às voltas. Temos de ser claros que a resposta é “não”, mantendo uma postura respeitosa, podendo ou não haver uma justificação para a nossa resposta.
R – Reforçar Resultados Positivos (Benefício)
Reforçar o comportamento que procuramos. Dar a conhecer ao outro o que pode ganhar se cooperar. É importante a pessoa saber que também pode ganhar algo com a situação.
Em paralelo, e apenas no caso de nos fazer sentido, pode ser usada a negociação, ou seja, tentar chegar a um compromisso relativamente ao que estamos a solucionar. Mesmo quando queremos tirar proveito da situação ou fazer um pedido, as pessoas não têm necessariamente de aceitar. Sabemos que as pessoas estão mais predispostas a cooperar se conseguirem algo em troca ou se forem participantes ativos na solução e não no problema.
Podemos, ainda, oferecer outras soluções, que vão mais ao encontro do que o outro pede – as opções devem ser sempre coisas que estejamos realmente dispostos a fazer. E podemos também pedir sugestões. “O que é que propões? Há alguma coisa que gostasses de tentar?” – isto permite à pessoa sentir-se integrada na resolução da questão.
5 Dicas práticas para ser mais assertivo no dia a dia
1. Dizer “não” de forma simples e direta. Dizer que não é um direito que muitas vezes esquecemos. Podemos usar frases curtas e respeitosas como “obrigada pelo convite, mas não vou poder aceitar” ou “Não posso assumir este compromisso agora”. Devemos evitar justificações longas ou desculpas que podem enfraquecer a sua mensagem. Quanto mais natural se tornar dizer “não”, mais fácil será manter a sua integridade pessoal sem culpa.
2. Utilizar a técnica do “Disco Riscado”. A técnica do disco riscado consiste em repetir calmamente qual é a nossa posição, sem alterar o tom de voz, mesmo que o outro insista. Isto mostra firmeza sem sermos agressivos. Use frases que reafirmem o seu posicionamento de forma educada, criando um limite claro sem escalar o conflito. Por exemplo: “Compreendo o seu ponto de vista, mas a minha decisão mantém-se”.
3. Controlar o tom de voz e a linguagem não verbal. A comunicação não verbal é tão importante como as palavras que saem da nossa boca. Falar num tom calmo, firme e pausado transmite segurança. Devemos manter o contacto visual, adotar uma postura aberta (ombros para trás e braços descruzados) e gesticular de forma moderada para reforçar as suas palavras.
4. Preparação para conversas difíceis. Antecipar conversas desafiantes aumenta a nossa probabilidade de sucesso. Antes da conversa, podemos definir qual é o seu objetivo, escrever os principais pontos que queremos abordar e pensar em possíveis reações da outra pessoa. Ensaiar mentalmente ou até em voz alta pode ser uma forma de nos ajudar a ganhar confiança.
5. Ser assertivo não é o mesmo que ser egoísta. Muitas pessoas confundem assertividade com egoísmo, mas na verdade ser mais assertivo é encontrar um equilíbrio saudável entre os seus direitos e os dos outros. Aceite que não pode controlar as reações dos outros – o seu foco deve estar em comunicar de forma honesta, clara e respeitosa.
Construirmos a nossa auto-confiança e capacidade para sermos assertivos pode levar o seu tempo e ser altamente desafiante. Por ser algo tão impactante no nosso bem-estar e na relação que estabelecemos com o outro, é crucial treinarmos esse nosso lado mais assertivo, seguro e controlado.
Os benefícios de ser mais assertivos são vastos: relações mais saudáveis, menos stress, maior autoestima e mais sucesso pessoal e profissional. Treinar a assertividade é investir no seu bem-estar e na qualidade das suas interações.
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