Já se perguntou porque é que há filmes que, mesmo se só tivermos assistido a partes deles, ficam tão cimentados na nossa memória?
Conhece o termo “Jornada do Herói”? Este é o nome que se dá a uma estratégia usada para contar estórias e que é aplicada em vários contextos, desde o cinema à escrita. Não é a razão do sucesso de filmes ou livros mas é um dos fatores que mais justificam esse estrelato.
A jornada do herói refere-se à construção da story (estória), à narrativa. É um caminho comummente constituído por 12 passos, passos esses frequentemente identificados em filmes de culto, como a trilogia do Senhor dos Anéis ou o James Bond 007. É através desses passos que o nosso personagem principal ganha corpo, ganha vida, ganha forma e consegue cativar.
No primeiro passo da nossa story apresentamos o personagem principal, ou personagens principais, e damos-lhe vida, mostrando as suas características e personalidade. Mencionamos aspetos como a sua rotina, o seu quotidiano, os seus amigos… Este é um personagem que acrescenta algo e que cresce durante todo o caminho. É aqui que é criada a ligação com o público-alvo, aspetos com que o espetador, ouvinte ou leitor se identifica.
Este é o momento em que o nosso herói toma conhecimento da existência de um obstáculo, de algo diferente que pode mudar o seu dia a dia, fazê-lo sair da sua zona de conforto.
A recusa é a primeira reação do herói ao obstáculo existente. Tal como no mundo real, e na maioria das vezes, quando nos deparamos com algum obstáculo, algo que irá alterar a nossa realidade, tendemos a, numa primeira instância, dizer “Não, não quero isto para mim. Estou confortável assim, não estou interessado.”
Esta fase não significa literalmente o encontro com uma pessoa, algo físico. Sim, pode ser o encontro com alguém, alguém determinante para o herói mudar de rumo ou até um fenómeno da natureza como uma tempestade, mas também pode ser um chamamento, algo interior, qualquer coisa que o mova e o faça sair do seu lugar ou mundo comum.
Aqui o nosso personagem principal vai em direção ao desafio, ao obstáculo encontrado. É também aqui que ele aceita que, com mais ou com menos medo, vai sair da sua zona de conforto. O personagem torna-se consciente do desafio.
Neste passo, o personagem percebe quais os seus amigos, que o ajudam no caminho, e quais os seus opositores. Depara-se com os obstáculos reais, que podem ser eventos muito fortes ou “pequenas pedras no seu caminho”. É aqui que o nosso herói começa efetivamente a crescer.
Esta é uma altura de isolamento. O herói recolhe a si mesmo, questiona-se. Pode inclusive haver um afastamento dos aliados. Ele pára para pensar, para meditar, partindo para o seu interior e questionando-se sobre o que se passa, o que tem de fazer e como fazê-lo.
Finalmente, há o obstáculo que o herói encara. Neste passo, ele tem, aparentemente, de vencê-lo, de superar aquela prova. O personagem pensa que tem todas as condições necessárias, como aliados à altura, para combater o problema porque tem um percurso, evoluiu, cresceu – foi posto à prova. Aparentemente, a prova é superada.
Aqui o herói perceciona que o problema foi superado. Já pode começar a preparar-se para regressar ao seu mundo comum. No entanto, ele não se prende com grandes festejos. Porquê?
O herói entende que há uma calmaria mas não está de todo confiante. Mas porquê?
Porque o obstáculo não está superado. Neste passo, o obstáculo renasce das cinzas. É aqui que se dá a derradeira batalha (literal ou metaforicamente), o confronto final.
Munido de todas as armas, ferramentas, ensinamentos e aliados, o herói consegue, por fim, vencer a batalha e, assim, dá-se a consagração (mais uma vez, literal ou metafórica). É muitas vezes recebido de braços abertos no seu lugar comum.
A jornada do herói não é uma estratégia para replicarmos ipsis verbis (literalmente) – o objetivo de conhecermos este método é retirarmos dele o melhor para redigirmos a nossa story. Não é, ainda, uma estratégia estanque: pelo mundo, inclusive em países onde se fala a mesma língua, as designações poderão ser diferentes; no entanto, os passos dados são basicamente os mesmos.
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